COMO VAI A MÚSICA LITÚRGICA ENTRE NÓS? – 1ª PARTE
ESTUDO 79 CNBB

1.1.           O SONHO DO ÚLTIMO CONCÍLIO ECUMÊNICO

1. Trinta e cinco anos atrás, a primeira e solene palavra do Concílio Vaticano II foi justamente a Constituição sobre a Sagrada Liturgia, datada de 4 de dezembro de 1963.
Este importante documento veio antes de tudo reavivar a fé tradicional da Igreja: Nunca, depois disto (isto é, após a vinda do Espírito Santo, no dia de Pentecostes), a Igreja deixou de reunir-se para celebrar o Mistério Pascal: lendo “tudo quanto a Ele (Jesus) se referia em todas as Escrituras” (Lc 24,27), celebrando a Eucaristia, na qual “se torna novamente presente a vitória e o triunfo da sua morte” (Conc. de Trento) e, ao mesmo tempo, dando graças “a Deus pelo dom inefável” (2Cor 9,15) em Jesus Cristo, “para louvor de sua glória” (Ef 1,12), pela força do Espírito Santo.2
2. O grande anseio do Concílio, naquele momento, e dos que hoje nos preocupamos com a Liturgia era e é: que todos os fiéis sejam levados àquela plena, cônscia e ativa participação das celebrações litúrgicas, que a própria natureza da Liturgia exige e à qual, por força do batismo, o povo cristão, “geração escolhida, sacerdócio régio, gente santa, povo da conquista” (1Pd 2,9; cf. 2,4-5), tem direito e obrigação.3
3. É neste contexto ideal que devemos situar o canto de nossas Comunidades Cristãs ao celebrarem sua fé, e conseqüentemente o exercício dos ministérios musicais. E é o mesmo Concílio que, ao constatar que grande parte da participação da assembléia é assegurada pela música, pelo canto, percebe e proclama que a música, o canto litúrgico, não são apenas “enfeite”, mas fazem parte necessária ou integrante da liturgia solene.4
Por esta razão, os que exercem nestas celebrações algum serviço musical, cantores, instrumentistas, regentes ou animadores do canto da assembléia desempenham verdadeiro ministério litúrgico.5 Mas é importantíssimo recordar, já de início, a concepção que os padres conciliares tinham da função ministerial da música sacra no culto do Senhor.
Segundo eles, a música sacra será tanto mais santa quanto mais intimamente estiver ligada à ação litúrgica, quer exprimindo mais suavemente a oração, quer favorecendo a unanimidade, quer, enfim, dando maior solenidade aos ritos sagrados.6
4. Para essa participação ser também frutuosa, como deseja o Concílio, tem-se buscado, entre nós, uma resposta sincera à pergunta: “como ligar mais profundamente liturgia e vida?”... Pensando concretamente em nossa realidade de América Latina, de Brasil, e levando em conta a diversidade das regiões, como as celebrações litúrgicas poderiam suscitar em seus participantes um compromisso com a transformação, tanto pessoal quanto social, como testemunho e sinal do Reino de Deus entre nós?... E o que a música e o canto de nossas celebrações têm a ver com isso?...
5. Vamos erguer nosso olhar sobre o caminho percorrido, procurando identificar quanto de bom se realizou e precisa não só ser mantido, mas avançar... quanto de falho ainda permanece e precisa ser corrigido ou superado..., bem como nossas chances de progresso e crescimento.
2 SC 6.
3 SC 14.
4 SC 112.
5 SC 29.
6 SC 112.

1.2. NOSSOS ÊXITOS, O QUE DE MELHOR TEMOS CONSEGUIDO.

6. A experiência universal prova que o canto cria comunidade, liga as pessoas entre si, e mais eficazmente as põe em sintonia com o Mistério, com Deus. Podemos verificar que no Brasil, em nossa Igreja Católica, dentro do processo da renovação litúrgica, vem-se fazendo grande esforço para criar uma música na linguagem do povo, enraizada tanto na tradição bíblico-litúrgica quanto na nossa experiência eclesial latinoamericana e brasileira e na cultura musical do nosso país, na variedade cultural de suas regiões.
7. Desde a década de 60, vêm-se realizando encontros nacionais e regionais de músicos, musicólogos, folcloristas e liturgistas, especialmente por iniciativa da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), tendo em vista o estudo, a criação e o incentivo de uma música litúrgica brasileira.
8. Em nível regional e diocesano, anualmente, se organizam “Cursos de Canto Pastoral e Litúrgico”. Neles, além de os músicos das mais diversas regiões terem a oportunidade de apresentar suas novas composições, cuida-se também da formação litúrgica dos participantes.
9. Desde 1992, o Curso Ecumênico de Formação e Atualização Litúrgico-Musical (CELMU) procura ajudar na preparação adequada de compositores(as), letristas, animadores(as) de canto, regentes e instrumentistas engajados na pastoral litúrgicomusical.
Através deles e delas, as comunidades estão conhecendo, apreciando e executando cantos provindos de outras Igrejas e tradições cristãs.
10. A Campanha da Fraternidade, desde 1964, tem organizado, anualmente, concursos que possibilitam a criação de textos e melodias sobre determinado aspecto social da realidade brasileira.
11. Grande variedade de publicações, nestes últimos anos, tem dado apoio eficiente à prática da música litúrgica em todas as regiões do nosso país. Primeiro, na euforia da renovação conciliar, apareceram as Fichas Pastorais. Em seguida, publicou-se o “Cantos e Orações”, que recolheu e divulgou o que parecia válido e atual tanto em antigas coletâneas, como Harpa de Sião e Cecília, como nas criações mais recentes do pós-Concílio... A série “Povo de Deus” representou grande esforço de levar a assembléia a cantar os textos próprios da Missa de cada domingo, com melodias e ritmos brasileiros.
Muitos compositores de renome nacional foram convidados a participar desse empreendimento. Um pouco por toda a parte, foram-se multiplicando as publicações de livros ou cadernos de cantos, de gravações e partituras, ligadas ou não aos folhetos litúrgicos, por iniciativa dos próprios compositores, de Editoras, Dioceses, Pastorais, Movimentos ou Grupos. Duas publicações merecem destaque, pela qualidade criteriosa de seus repertórios e pelo alcance de sua eficácia pastoral, espiritual e litúrgica: os quatro volumes do Hinário Litúrgico da CNBB e o Ofício Divino das Comunidades (ODC).
12. A participação do povo no canto litúrgico tem recebido apoio e incentivo da parte de muitos pastores. Em numerosas comunidades, as celebrações vão-se tornando mais vivas e vibrantes, e o canto de toda a assembléia cresce e se faz amplamente presente.
13. A introdução e uso dos mais diversos instrumentos, na grande maioria das comunidades, enriqueceu e valorizou o canto litúrgico.
14. O repertório litúrgico-musical tornou-se bastante amplo e variado, procurando responder, também, a novas formas de celebração, como, por exemplo, as celebrações dominicais nas CEBs, as Romarias, os Louvores, as Vigílias...
15. A Bíblia, a vida do povo, a religiosidade popular e as raízes musicais populares têm sido consideradas como fontes de inspiração na composição do canto litúrgico.
16. Cada vez mais tem-se dado importância à expressão simbólica e corporal, mediante gestos, encenações e danças ligadas ao canto, tornando as celebrações mais afetivas e expressivas, menos verbais e cerebrais.
17. As possibilidades de criatividade que os livros litúrgicos oferecem estão sendo melhor aproveitadas. Nos últimos anos, vem-se dando maior atenção aos cantos do assim chamado Ordinário, isto é, às partes fixas da celebração, como também às aclamações do povo, cantadas, na Oração Eucarística.
18. Na última década, surgiram cantos que correspondem mais à índole própria das diversas regiões e comunidades, significando um avanço no processo da inculturação, quanto aos textos, às melodias, aos ritmos e instrumentos. A publicação do ODC e dos subsídios que o acompanham tem-se destacado dentro deste processo.
19. A introdução de refrãos meditativos, no início ou mesmo em algum momento da celebração, tem favorecido o clima de oração, de meditação, de concentração, de paz, de atenção. São pequenas frases, simples, de fácil memorização e repetição, com texto e melodia de boa qualidade.
20. A tomada de consciência do “ministério da música”, por parte dos músicos e cantores, tem feito crescer a responsabilidade na preparação e execução das celebrações litúrgicas.
21. Ao lado da prática do canto gregoriano e da polifonia vocal em algumas Igrejas e mosteiros, as comunidades vão tomando consciência do valor do canto como parte integrante da liturgia, como fator de participação ativa e frutuosa, e como espaço para o exercício da criatividade.
22. • Na sua comunidade eclesial, dá para perceber alguns dos êxitos acima registrados, ou mesmo outras coisas positivas, na experiência musical das comunidades cristãs?
• Na sua própria atuação, no exercício do seu ministério musical, você reconhece algum destes sinais positivos?